Segundo a projeção Outlook do Imea, a expectativa é que o estado produza 1,9 milhão de toneladas em 2034, provenientes de 6,41 mi de cabeças abatidas
O abate de bois em Mato Grosso vai diminuir, mas a produção de carne vai aumentar. Ainda que pareça incoerente, o dado, que vem de levantamento do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), reflete o melhoramento do rebanho por iniciativa dos pecuaristas. Desde programação fetal até cuidado com o pasto, a modernização da pecuária tem feito com que haja maior concentração de animais por área, sem necessidade de desmatar mais.
Segundo a projeção Outlook do Imea, a expectativa é que o estado produza 1,9 milhão de toneladas em 2034. Esse total virá do abate de 6,41 milhões de cabeças de boi, 500 mil a menos do que este ano.
A diminuição, a princípio, é algo esperado em razão da mecânica do ciclo pecuário, que dura de seis a cinco anos. Quando há pouca oferta de bezerros, o preço dele sobe e o produtor retém as vacas reprodutoras – matrizes – dentro da fazenda para que gerem mais animais e aumenta a procura por machos. Com isso, a produção de bezerros aumenta e o preço dele cai. Na primeira etapa, há pouco abate já que há poucos animais.
Entretanto, o produtor tem melhorado o seu rebanho para que a oferta de carne e produtos derivados cumpra necessidade do mercado. Para tanto, o gado sofre melhoramento genético, suplementação, melhoria de pasto para favorecer o desenvolvimento de músculos e a engorda.
“O nosso peso de carcaça, a quantidade de carne no mesmo boi, vem aumentando em função da melhora da qualidade das pastagens, integração lavoura pecuária, melhoramento genético, suplementação com produtos que não tínhamos. Acaba que o animal, que hoje chega no frigorífico com 19, 20 arrobas, pode ser engordado para pesar mais. É possível que a gente tenha uma diminuição do rebanho e, mesmo assim, aumente a quantidade de carne, com o aumento do peso dos animais produzidos”, detalha o diretor técnico da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), Francisco Manzi.
O planejamento para um gado saudável e capaz de engordar começa antes que o animal nasça. Guilherme Silveira, empresário e agrônomo, conta que uma das formas de garantir maior é o cuidado com a fêmea durante a gestação, para que ela tenha condições de parir um bezerro apto e gerar outros posteriormente.
“Todo o nosso trabalho está focado na programação fetal, que é nutrir bem a vaca. Automaticamente, eu vou produzir um bezerro que teve melhor colostro, melhor imunidade. Quando eu for desmamar esse bezerro, ao invés de ter a média de 170, 180 kg, ele pode ter entre 220 e 240 kg”, aponta.
A seleção dos genes que também possibilita maior engorda em menos tempo. Historicamente, o Brasil possui um rebanho com cruzamento de Nelore e Angus. O primeiro possui a resistência ao clima e ao ambiente, enquanto o segundo favorece a produção de carne. Devido à evolução nessa junção, o gado Nelore já possui características de Angus em mais necessidade de refinamento.
Natureza também é aliada
Dentro do melhoramento dos bois, algo visado pelos produtores é o enriquecimento do capim. Essa estratégia é comum por ser a mais econômica. Com o enriquecimento das gramíneas, o boi consegue ser eficiente no pasto, porque existe a certeza que ele ganhará peso lá antes do confinamento. Logo, o tempo do animal dentro da fazenda é otimizado e abre espaço para loteamento de outros.
“O pecuarista antigo largava o boi no pasto e só buscava o boi depois de quatro, cinco anos. Quanto espaço ele não ocupou de outros bois que poderiam morrer mais rápido? Consumindo mais alimento e produzindo mais. Você tem um boi, mas demora quatro anos para matar ele. Se você tem um boi e demora um ano, esse animal vai consumir a mesma coisa, produzindo o mesmo metano, gastando o mesmo, só está fazendo um giro mais rápido”, explica Guilherme.
Outra razão pelo crescimento do melhoramento de bois é implementação de noções sustentabilidade dentro da propriedade rural. Atualmente, a mentalidade do produtor está voltada em aproveitar a área já desmatada do que desmatar mais.
De acordo com a Acrimat, há 23 milhões de hectares de pasto em Mato Grosso. Esse território comporta cerca de 31 milhões de cabeças de gado.
“Não adianta nada eu ter uma área aberta, ou querer desmatar mais área, se o que está na minha mão eu não consigo produzir. A meta para 2030, 2050, é aumentar a produção dentro daquela área, ocupando melhor essas áreas com pasto, formando melhor pasto, colocando variedade de pasto bom e manejando bem esse pasto”, afirma Silveira.
Ainda que o tempo da agricultura seja mais atrativo economicamente, o pecuarista tem investido em modernização da produção, colaborando para a eficiência e produtividade dentro do ramo. “Aquelas fazendas que não tem vocação para lavoura, mesmo assim estão se tecnificando. As propriedades estão sendo divididas em cerca elétrica, muita gente já faz adubação das pastagens, já existem gramíneas mais bem adaptadas, essa suplementação que é feita com produtos de etanol e outros produtos de agricultura para que haja uma pecuária mais eficiente”, conclui Manzi.


