“Tirá-lo do cargo foi a melhor decisão no momento, para que as investigações seguissem com transparência”, justifica ministro Carlos Fávaro
O ministro da Agricultura e Pecuária, senador licenciado Carlos Fávaro (PSD), saiu em defesa do ex-secretário de Política Agrícola Neri Geller, que foi exonerado do órgão após suspeitas de fraude no leilão para compra de 263 mil toneladas de arroz, que visa evitar o desabastecimento ou alta de preços após as enchentes no Rio Grande do Sul.
Neste sentido, Fávaro disse que Neri não fez nada de errado. No entanto, tirá-lo do cargo foi a melhor decisão no momento, para que as investigações seguissem com transparência.
“Somos amigos há 40 anos. O Neri não fez nada de errado, mas então por que demitiu? Vejamos, nós temos que ter a coisa pública com trato com total transparência. E eu falei isso muito pra ele. Não é nenhum tipo de julgamento”, justifico Fávaro após o lançamento oficial da pré-candidatura do deputado estadual Lúdio Cabral (PT) a prefeito de Cuiabá, realizada nesse sábado (29).
Fávaro relembrou ação de governos anteriores, como o de Itamar Franco, ainda na década de 1990. “Um belíssimo exemplo feito por Itamar Franco, quando pediu que seu ministro da Casa Civil Henrique Hargreaves, sob uma denúncia de corrupção com emendas parlamentares em 1994, saísse do governo para que a investigação tivesse transparência. E 121 dias depois ele estava de volta”, lembra.
O ministro atribuiu a queda de Neri do cargo por conta da polarização política. “Não fizemos nenhum tipo de pré-julgamento, mas o Brasil está tão intolerante que mesmo a gente tomando todas as atitudes com relação a esse leilão de arroz, mesmo sem gastar R$ 1 de dinheiro público”, salienta.
“O processo ficaria muito difícil para ficar explicando com todo mundo no cargo. Hoje tem liberdade para CGU, Polícia Federal investigar o processo e tenho certeza que não vão encontrar nada de errado. Torço para não encontrarem nada de errado. E que todo mundo possa continuar caminhando de cabeça erguida. Neri tem todas as qualidades para voltar ao governo do presidente Lula”, conclui.
Ministro admite orientação em leilão
O ministro confirmou que participou da elaboração do edital da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para o leilão para importação de arroz. Fávaro disse que fez sugestões para o leilão e que elas foram acatadas.
“Todas as sugestões que eu fiz para ele durante o processo, apesar de não ser minha atribuição legal fazer edital, mas todas … que ele inclusive narrou na entrevista eu as reafirmo. Por exemplo, uma delas: o Fávaro pediu para que o preço de oferta não fosse mais de R$ 5. Inclusive tecnicamente, os técnicos achavam que devia ser um pouco mais de 5, mas nós temos que tentar comprar mais barato. Fico muito feliz porque é verdade, eu economizei dinheiro”, disse o ministro.
Fávaro também alegou que sugeriu que o tamanho das embalagens seguisse o padrão comercial e que o prazo de entrega fosse de 90 dias, para viabilizar a participação de mais mercados, mesmo os mais distantes.
Entenda o caso
O Governo Federal, por meio da Conab, havia adquirido, em junho, 263 mil toneladas de arroz importado em um leilão público – o que corresponde a 88% do pedido inicial, que era de 300 mil toneladas. As negociações ocorreram após as enchentes no Rio Grande do Sul, mesmo o Governo tendo anunciado que teria arroz suficiente em estoque, a fim de garantir a regulação do mercado.
O produto foi adquirido por R$ 25, o pacote de 5 kg, e deveria chegar na mesa do consumidor final por R$ 20 (ou seja, R$ 4 por 1 kg).
Acontece que o Governo Federal voltou atrás e anulou o leilão, sob justificativa de que há indícios de incapacidade técnica e financeira de algumas empresas vencedoras. No entanto, o Governo Federal pretende fazer um novo leilão.


